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1 de mai. de 2011

A era dos super-heróis deslancha nas telas


Parece seguro afirmar que, em matéria de cinema, 2011 será lembrado como o ano dos super-heróis. “Thor”, que estreou essa semana nas salas mundiais, é apenas o pontapé inicial. Ao filme do Deus do Trovão, seguem-se “X-Men: Primeira Classe”, “Lanterna Verde” e “Capitão América: O Primeiro Vingador” – quatro blockbusters de super-heróis disputando as atenções em um só verão americano, a temporada mais acirrada para os lançamentos comerciais.

Trata-se de uma média histórica que quebra o recorde estabelecido em 2008 com três filmes do nicho: “Batman – O Cavaleiro das Trevas”, “Homem de Ferro” e “O Incrível Hulk”.

Mas a marca de 2011 será superada rapidamente. No ano que vem, estão agendados para estrear “The Amazing Spider Man”, releitura do Homem-Aranha com Andrew Garfield (“A Rede Social”) no papel principal; “The Dark Knight Rises”, o terceiro filme de Batman a ser dirigido por Christopher Nolan; “Motoqueiro Fantasma 2″, continuação do terror estrelado por Nicolas Cage; “The Wolverine”, o segundo filme solo do mutante vivido por Hugh Jackman, que neste momento busca um diretor; “Superman – Man of Steel”, um reboot do personagem Superman com direção de Zack Snyder (“Watchmen”) e o filé mignon “Os Vingadores”, a aguardada reunião dos heróis dos quadrinhos da Marvel, conduzida pelo ultranerd Joss Whedon (criador das séries “Buffy – A Caça-Vampiros” e “Firefly”).

Em 2013, será o ano de várias continuações, como “Homem de Ferro 3″ e até mesmo as de heróis lançados neste ano. No contrato dos atores de “Thor”, “Capitão América: O Primeiro Vingador” e “Lanterna Verde”, por exemplo, está incluída uma cláusula de comprometimento com as eventuais sequências. “Kick-Ass”, adaptado de quadrinhos quase paródicos que maleiam as convenções dos super-heróis, é outro que já tem a segunda parte garantida, atualmente em pré-produção.

Também foram anunciadas a produção de “Deadpool”, com Ryan Reynolds (mesmo ator de “Lanterna Verde”), “Nemesis”, gibi ultraviolento do criador de “Kick-Ass”, o projeto do filme solo da “Viúva Negra”, com Scarlett Johnasson, a estreia cinematográfica de “The Flash”, com roteiro dos responsáveis por “Lanterna Verde”, e um filme da Liga da Justiça, o equivalente da DC Comics aos Vingadores da Marvel – reúnem-se, sob essa égide, os principais heróis da editora, como Batman, Superman, Lanterna Verde, Flash e a Mulher-Maravilha. Os quatro primeiros têm, no presente momento, filmes individuais em desenvolvimento. A quinta integrante vai ganhar uma nova série de TV ainda este ano, estrelada por Adrianne Palicki.

A televisão, claro, também está no caminho da avalanche dos heróis dos quadrinhos, adaptados conforme as convenções da mídia. O Superman, por exemplo, ganhou roupagem teen na série “Smallville”, que está chegando ao fim após 10 temporadas bem-sucedidas.

Mas se a DC saiu na frente, a compra da Marvel pela Disney prepara terreno para o lançamento de diversas séries nas próximas temporadas, entre elas “Hulk”, “Manto e Adaga” e a mais adiantada, “AKA Jessica Jones”, sobre a personagem dos quadrinhos “Alias”, que está sendo desenvolvido pela roteirista de “Crepúsculo” Melissa Rosenberg. Mesmo heróis independentes como “Powers”, sobre policiais que tentam manter a ordem em um mundo onde superpoderes são comuns, tem uma chance na telinha: uma série baseada nos gibis está sendo planejada pelo canal FX.

Essas empreitadas talvez precisem de mais sorte que as produções cinematográficas: a TV continua receptiva, mas o público não abraçou as duas últimas séries dessa temática. “No Ordinary Family”, criada por um dos roteiristas de “Lanterna Verde” e centrada em uma família que adquire superpoderes, não impressionou na audiência e corre riscos de cancelamento, e “The Cape”, sobre um detetive que assume o papel de super-herói, foi encerrada antes da hora pelos baixos índices. Nota-se, porém, que esses projetos não foram baseados em heróis já conhecidos dos quadrinhos, sendo mais similares à séries como “Heroes” – que, traçando o caminho inverso, lançou tirinhas virtuais para complementar a trama dos seus episódios.

O fracasso não se limita à TV. O cinema também tem pencas de filmes de heróis que não deram certo: em algum ponto dos anos 1990, por exemplo, quase todas as adaptações dos quadrinhos pareciam ter chegado ao completo esgotamento criativo. O extravagante “Batman & Robin” (1997), exacrado por público e crítica, parecia ter sido o prego no caixão não apenas da franquia do Homem-Morcego, mas também de todo o nicho.

Na década seguinte, Hollywood tentou levantar a cabeça – mas não sem alguns contratempos. Exemplares medianos incluem “Demolidor” (2003), “Quarteto Fantástico” (2005), “Motoqueiro Fantasma” (2007) e, abaixo da crítica, “Elektra” (2005), com Jennifer Garner, e “Mulher-Gato” (2004), que sentenciou Halle Berry ao ostracismo. Os filmes foram considerados fúteis demais. “Hulk”, dirigido por Ang Lee em 2003, foi o oposto: existencial e deprimido em excesso, o longa não encontrou seu público.

Alguns cineastas, porém, foram muito capazes de conciliar uma coisa e outra. Sam Raimi se provou um diretor de ação e fantasia de mãos-cheias na trilogia “Homem-Aranha”. Guillermo del Toro deu asas às suas invencionices em “Hellboy”. Bryan Singer fez o que muitos consideravam impossível: transformar os “X-Men” em saga cinematográfica. Christopher Nolan recuperou a dignidade do morcego em “Batman Begins” e “O Cavaleiro das Trevas”. Jon Favreau encontrou o ponto certo da diversão em “Homem de Ferro”.

Em abordagens muito particulares, eles provaram que um herói dos quadrinhos pode preservar a sua essência no cinema mesmo quando influenciados pela visão dos novos responsáveis pela criação. Hoje, esses trabalhos são referências para as futuras adaptações. O “Superman” de Zack Snyder, por exemplo, se espelhará assumidamente na ótica com que Nolan retratou o Batman. Nolan, aliás, teve a ideia original do projeto, que tentará reviver o Homem de Aço após o insosso e esquecível “Superman: O Retorno”, lançado em 2006. Por ironia, o diretor daquele filme, Bryan Singer é quem dá a garantia de qualidade de “X-Men: Primeira Classe”, ao desenvolver as ideias e assumir a produção do prelúdio, após o péssimo “X-Men: O Confronto Final” (2006), do qual não participou.

Os diretores têm muito a que se esforçar: um mercado abarrotado de filmes de heróis equivale a um público mais exigente. Espectadores para as adaptações dos quadrinhos sempre existirão – trata-se, afinal, de um tema universal e atemporal, e elemento ainda mais indelével na cultura americana, por externalizar o desejo do cidadão comum de escapar da rotina e ser invencível (daí o fato de tantos superpoderosos se camuflarem em codinomes e cotidianos monótonos).

Mas, para que os filmes se sustentem financeiramente, têm de possuir algo que os destaque. Se na ficção os heróis jogam no mesmo time, na realidade eles brigam assiduamente pela atenção do público. Os pólos dessa disputa costumam se resumir a dois nomes: DC Comics e Marvel Comics, eternos rivais nos gibis, que agora levam ao cinema e a TV os próximos capítulos de sua disputa. Cada qual tem um vasto repertório de personagens, alguns bem-sucedidos em outras mídias, outros nem tanto. E, desde que continuem ambas tentando se superar, o maior vitorioso será o espectador.

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