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9 de jun. de 2011

Amor e Outras Drogas é love story com Viagra


“Amor e Outras Drogas” pode ser considerado exemplo de propaganda enganosa. Pelo título, imagina-se um enredo iconoclasta em que o mais nobre dos sentimentos é equiparado às substâncias químicas que podem curar ou viciar.
O filme começa mostrando um jovem mulherengo e vendedor nato (Jake Gyllenhaal) que trabalha para a Pfizer como propagandista farmacêutico. Com um diálogo cortante e acelerado, a primeira parte oferece uma crítica virulenta à medicina capitalista, com os laboratórios imersos numa guerra sem trégua em que os divulgadores de remédios agem como guerrilheiros ou terroristas. Nesse confronto vale tudo, inclusive seduzir secretárias, subornar enfermeiras e corromper médicos.
Num intervalo dessa maquiavélica atuação, o protagonista se encanta com uma moça problemática (Anne Hathaway) que parece hipocondríaca ou viciada e, no entanto sofre mesmo do mal de Parkinson. A princípio, ambos resistem à idéia de se entregar ao afeto acima mencionado, mas depois que eles relaxam e se declaram, o filme muda de andamento e se transforma numa “Love Story”, que esbarra naquele sentimentalismo do filme de Arthur Hiller que fez sucesso com esse mesmo título em 1970. Para evitar o melodrama, o roteiro recorre a um humorismo chulo, que destoa da parte inicial.
Em meio a uma odisséia em busca de uma cura para a amada, a empresa em que o herói trabalha descobre o Viagra – com as inevitáveis rotinas cômicas que esse fato pode sugerir. Sem falar do irmão mais novo, imaturo e desbocado que divide o apartamento com o protagonista e que parece diretamente egresso de uma comédia tipo “Se Beber Não Case” (2009). Os dois contracenam numa constrangedora passagem supostamente cômica e totalmente deslocada do conjunto do roteiro, em que um deles sofre um ataque de priapismo.
Nesse ponto, temos uma nova guinada no rumo do roteiro, que parece instaurar um deslavado merchandising da pílula azul. Por exemplo: numa clínica médica, dezenas de pessoas, entre médicos, enfermeiras e pacientes, cercam o personagem de Jake Gyllenhaal implorando por uma amostra grátis. É provável que, nunca antes na história do cinema de ficção, o nome de um produto tenha sido tantas vezes mencionado, num marketing que supera a bola Wilson de “Náufrago” (2000).
Nas sequências finais, o diretor Edward Zwick – conhecido como aquele profissional sério que ganhou um Oscar em 1998 por “Shakespeare Apaixonado” – precisa decidir se encena uma comédia adolescente ou um drama exemplar sobre a instituição da família como a panacéia universal. O que mais prejudica o filme é justamente a ausência total de coerência narrativa e estilística.
Pipoca moderna 

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