Pages

13 de nov. de 2010

Comédia Minhas Mães e Meu Pai celebra o casamento homossexual


É refrescante ver como os gays mudaram de vida no cinema e na TV. Parece que faz décadas, mas ainda ontem eles eram os personagens cômicos e caricatos, os relutantes de armário, os mártires da “causa” ou os militantes engajados na luta por seus direitos. Hoje, entretanto, estão absolutamente integrados no american way of life, vivendo casamentos felizes sem escandalizar mais ninguém. É assim nas séries “Brothers & Sisters”, “Modern Family” e agora no filme “Minhas Mães e Meu Pai”.
Ao chegarem no tapete vermelho para a estreia no Festival de Berlim de “Minhas Mães e Meu Pai”, a atriz Julianne Moore e a diretora Lisa Cholodenko trocaram um beijo animado. Os flashes dispararam, mas ninguém viu malícia no gesto publicitário. Pessoas do mesmo sexo se beijam a toda hora em qualquer lugar. Os gays venceram o conservadorismo pela superexposição.
“Minhas Mães e Meu Pai” chega no timing certo para discutir a nova etapa dos relacionamentos homossexuais, quando os filhos dos primeiros casais assumidos estão atingindo a delicada idade da adolescência. “Para mim, o filme é o retrato de uma família e do que significa estar casada durante tanto tempo, independentemente da orientação sexual”, declarou Moore, quatro vezes nomeada para o Oscar, durante o Festival de Berlim.
Com seu filme de estreia, “High Art”, a cineasta Lisa Cholodenko já tinha demonstrado habilidade para filmar temas gays com apelo comercial abrangente. Seu terceiro filme é uma divertida comédia lésbica. Na trama, Annette Bening e Julianne Moore vivem um casal feliz e bem resolvido, que completou seu longo casamento com dois filhos, hoje adolescentes, concebidos com a ajuda do mesmo doador de esperma. A comédia resulta da ansiedade do caçula em conhecer seu pai biológico.
Entra em cena Mark Ruffalo, um restauranteur que planta seus próprios vegetais orgânicos e gosta de sujar as mãos – tanto na terra quanto nos membros femininos de seu staff. Para completar o quadro, ele abandonou a faculdade e só anda de moto. É o pior pesadelo das mães lésbicas.
Graças à iniciativa da filha mais velha (vivida por Mia Wasikowska, a “Alice no País das Maravilhas” de Tim Burton), o “pai” acaba sendo integrado na família. A reunião resulta em cenas divertidíssimas, durante jantares excruciantes para os envolvidos. Não demora muito para o charme de Ruffalo acabar causando estragos no relacionamento das mães, culminando numa cena de sexo culpado.
O filme é uma delícia, graças à química entre Annette Benning e Julianne Moore, que convencem como um casal de meia-idade focado em criar seus filhos. Mas é Mia Wasikowska quem tem o papel mais importante, ao se conectar e desconectar com a figura paterna, carregando todo o peso do ritual de passagem de uma adolescente em busca de seu lugar – socialmente, sexualmente e dentro de sua própria família.
O filme parece feito por um grande estúdio, com atores experientes, roteiro enxuto e visual impecável de comédia romântica comercial. Mas é independente, de coração e alma. “Filmamos em 21 dias”, disse Julianne Moore na entrevista coletiva. “Filmes independentes são assim. Alguém me fez uma pergunta incrivelmente entediante: ‘Estar num filme como este significa que você tem tempo de explorar?’. Disse: ‘Não, significa que não há tempo algum’”.
Hoje, é difícil acreditar que um filme tão a favor da “família” tenha tido dificuldade para ser realizado. Mas é bom voltar lá em cima, no primeiro parágrafo, para lembrar que o status de gays bem-sucedidos e resolvidos é recente na indústria do entretenimento. O projeto de “Minhas Mães e Meu Pai” levou cinco anos, desde que Julianne Moore leu o roteiro pela primeira vez, até seu lançamento.
Um dos motivos para a demora, disse a atriz, foi a dificuldade de financiamento. Grandes produtoras não quiseram apostar na história de um casal homossexual, cuja vida é virada do avesso pela chegada do doador do esperma que gerou seus filhos. Cinco anos depois de sofrer com o preconceito de Hollywood, essa história poderia muito bem virar uma série de sucesso na TV atual. O mundo mudou – rápido!

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Just Fama Pelo Mundo

Procure aqui