O sucesso de “Se Beber, Não Case” (2009) foi absoluto entre público – arrecadou mais de US$ 450 milhões nas bilheterias mundiais, uma renda espantosa para um filme de classificação indicativa elevada e de críticas positivas – , foi louvado como o “Cidadão Kane” dos filmes de bebedeira e premiado com o Globo de Ouro de Melhor Comédia.
Nada fazia prever um resultado tão satisfatório. O enredo, afinal, era extremamente genérico: durante uma despedida de solteiro, um grupo de amigos acorda de um porre sem recordações da noite anterior, e tem de refazer os passos para preencher as lacunas deixadas pela ressaca. Não por acaso, a continuação, que segue à risca a fórmula do primeiro filme, chega já com a garantia de sucesso, mas foi feita, claramente, no mesmo modelo que regeu o filme original.
Durante entrevista coletiva com a imprensa para divulgar o longa, o diretor Todd Phillips e o trio de protagonistas – Bradley Cooper, Ed Helms e Zach Galifianakis – deixaram evidente que possuem, por trás das câmeras, a mesma afinidade que aparece nas telas. E o mesmo senso de humor pervertido, também.
Mesmo com a expectativa de uma franquia, muito do material de divulgação foi fotografado informalmente. “Queríamos que parecesse algo muito caseiro, como o tipo de coisa que seus amigos postariam no Facebook”, comentou o diretor. “Fizemos várias fotos em um quarto de motel, só com uns saquinhos de ‘cocaína’, um macaco e algumas armas, e esse era todo o conceito. Tiramos de 40 a 50 fotos e eu amei todas elas: eram ridículas”, completou.
O orçamento, porém, lhes permitiu filmar em locações internacionais. Para a sequência, todos foram levados de Las Vegas, onde as desventuras do filme original são ambientadas, para a mais exótica – mas também bem mais conservadora – Tailândia. Na trama, Stu (Helms) está se casando no país, e as confusões provocadas pela bebedeira se dão às vésperas do casamento.
Para filmar no país, o diretor afirmou que teve de submeter uma versão do roteiro para a avaliação do governo e dos oficiais tailandeses. “Há alguns problemas sensíveis na Tailândia que nós naturalmente evitamos. Eles leram e viram tudo o que foi feito lá, mas acho que, da mesma forma que Vegas nos acolheu, Bangkok ficou feliz de ter ‘Se Beber, Não Case 2′ lá”, comentou Phillips.
Os atores concordam com o diretor. E que ninguém pense que eles gozaram de todos os privilégios de uma equipe de cinema: a bagunça das ruas de Bangkok lhes foi muito mais atraente. “Eu me apaixonei por Bangkok”, disse Cooper. “Nós passamos duas semanas em um resort, e eu mal podia esperar para voltar para Bangkok”, brincou.
As piadas continuam em alta voltagem, e mesmo que muitas delas já tenham sido adiantadas nos trailers e prévias, eles garantem que o público ainda será pego desprevenido. “Para promover uma comédia, fala-se muito sobre quantas piadas colocar no trailer, mas não acho que isso estrague alguma coisa, porque, no filme, é uma apresentação completamente diferente dessa mesma informação”, advertiu Helms. “Ainda há muitas surpresas nesse filme”, completa.
O diretor articulou um raciocínio similar. “É um filme de censura elevada, então não se pode mostrar muita coisa no trailer”, disse Phillips, sugerindo a enorme quantidade de palavrões e alusões sexuais da trama.
Um desses palavreados é especialmente arriscado: a palavra “nigger”, que descreve os negros de maneira pejorativa. O xingamento é proferido por Alan, o personagem de Galifianakis, responsável pelas maiores risadas do filme original, graças à sua completa falta de bom senso. “Acho que o Alan diz isso tão sem noção que chega a ser engraçado”, comentou Zach sobre o personagem. “Essa palavra pode ser inflamatória, mas Alan é tão tapado que é como se tirássemos sarro das pessoas que a falam”, completou.
Outro exemplo da mentalidade distorcida do personagem: em uma das cenas, ele imagina o grupo como crianças. “Para mim, isso é uma ideia típica de Michael Jackson”, provocou Phillips.
“Michael, eu realmente acredito, pensava em si mesmo como uma criancinha, então se rodeava por elas. E eu acho que é assim que o Alan enxerga o mundo. Alan não é algum tipo de pedófilo, mas alguém que iria de skate para um colégio só porque quer fazer amigos”, sofismou o diretor. O que é, enfim, uma maneira de utilizar o politicamente incorreto não pelo choque gratuito, mas para incidir uma reflexão sobre os temas.
“Se Beber, Não Case – Parte II” é eficiente justamente por funcionar como uma diversão despirocada, para assistir com o cérebro desligado, e, ao mesmo tempo, como uma comédia inteligente sobre sujeitos não muito espertos. E a confiança do estúdio no sucesso da continuação é tanta que, durante entrevista coletiva para divulgar o longa, o assunto de um terceiro filme foi abordado com entusiasmo.
“Obviamente, nós sempre imaginamos como uma trilogia. O terceiro seria um ponto final, mas só posso falar o que tenho na cabeça. Não discuti a respeito com os atores”, disse Phillips.
Para o diretor, o terceiro filme não seguirá necessariamente o escopo dos dois primeiros, mas certamente preservará o elenco. Indagado sobre a possibilidade de desenvolver um filme só sobre um dos protagonistas da franquia, Phillips brincou: “Fale com os agentes desses caras”, e apontou os atores.
Há, porém, a chance real de um spin-off estrelado por um coadjuvante: um dos personagens mais risíveis da franquia, o gângster Mr. Chow (Ken Jeong, da série “Community”, que reprisa o papel nesta sequência). “Eu amo o mundo que nós criamos e amo cada ator nesses filmes. Então, quem sabe, não façamos um filme sobre o Chow? Ele é um homem cercado de mistério tal qual Austin Powers”, disse Phillips, referenciando o agente interpretado por Mike Myers.
Certamente, “Se Beber, Não Case” tem bala na agulha para continuar rendendo louros – e o motivo é muito simples para os envolvidos. “Acho que muitas comédias americanas se desculpam pelo comportamento dos personagens nos últimos 10 minutos. Nós não fazemos isso”, afirmou Todd. “O final é: ‘Foda-se, que seja, acabou, vá embora’”, encerrou.
“Aliás, também é assim que todas as festas na casa do Todd acabam”, brincou Galifianakis, zoando o próprio diretor.
Via(Pipoca Moderna)
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