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24 de mar. de 2011

ENTREVISTA! A trilha sonora de Sucker Punch

-Tyler Bates e Marius DeVries falam sobre como foi criar a trilha para o filme, trabalhar com Zack Snyder e atores que morrem de medo de abrir a boca pra cantar. Related Posts with Thumbnails

São cerca de cinco minutos. Entre a voz de Sweet Pea falando sobre anjos da guarda, Baby Doll é apresentada ao público, no seu quarto, sofrendo com a morte da mãe e o abuso de um padastro que só queria, mesmo, o dinheiro da herança. No melhor estilo “Watchmen”, a sequência inicial deSucker Punch te localiza naquele mundo inteiro, te apresenta a personagem principal do filme e a um outro, que não sai de cena nem por um segundo: a trilha sonora.
A primeira música, que dura toda essa sequência inicial, é uma versão de “Sweet Dreams”, do Eurythmics, interpretada por Emily Browning. Sim, a própria Baby Doll canta a música que ilustra a sua desgraça. “Emily conseguiu deixar bem claro o que aquele momento significava pro filme”, conta Tyler Bates, compositor de Sucker Punch e que trabalha com Zack Snyder desde seu primeiro filme. “Foram várias sessões de gravação com ela e outros atores e cada vez que ela aparecia no estúdio contribuia mais, com algo diferente, e cada vez mais ficava interessante pra todos os envolvidos e, quando ela foi fazer alguma coisa específica para ‘Sweet Dreams’, gravou a versão completa e ficou bem melhor. Acabou sendo um ótimo jeito de introduzir seu personagem e suas emoções”.
Não só isso. A música introduz o filme como um todo. A experiência de se assistir a Sucker Punch começa aí. “Zack sabe o filme que ele está fazendo desde o começo, sabe onde ele quer estar, mas é muito aberto em relação a experiências e descobertas com todo mundo envolvido”, conta Bates. Mas e a Emily Browning? “Ela estava morrendo de medo. Ela não acreditava — AINDA não acredita — que poderia fazer. Nós mostramos pra ela o CD e dissemos ‘Olha! Você fez isso!’ e ela, assustava, diz ‘Não, não fiz não!’”, brinca Marius DeVries, diretor musical do filme.
Sweet dreams are made of this...
Marius é provavelmente o maior responsável pela trilha ter saído do jeito que saiu. Não só porque convenceu Emily Browning a gravar duas músicas, morrendo de medo, mas também porque “inventou” essa história. “Inicialmente, a ideia era experimentar durante as gravações, nas diversas performances dentro do Teatro. Enquanto gravávamos alguns desses momentos, como o de Oscar Isaac e Carla Gugino, nos créditos, com ‘Love is the Drug’, percebemos que dos vários caminhos que estávamos testando, esse foi um dos que mais deu certo, mas não ajudava muito na hora de contar a história e, então, resolvemos seguir outra direção”, conta. “Foi durante esse processo que a gente descobriu que voz Emily Browning tinha e como útil aquilo podia ser pra nós, construindo essas novas versões de canções pra se encaixar nessa realidade alternativa”.
Obviamente, porém, tudo começou na cabeça de Zack Snyder“Zack colocou muito a mão na massa, e foi crucial no processo de seleção e definição do que seria musical e o que não seria. Antes de termos um roteiro, já tínhamos duas opções de música, ‘White Rabbit’ e ‘Love is the Drug’. Isso ajudou no desejo e idéia de regravar, recriar músicas e usar canções no processo de contar a história e não só pra servir de ‘tema’ para o filme, mas também pra acompanhar as transições necessárias entre as jornadas e fantasias da história. Isso fez começar um processo de tentar encontrar mais canções que se encaixariam no roteiro”.
Aliás, curiosamente, Sweet Dreams, com ou sem Emily Browning, demorou a ser eleita para abertura do filme. “‘Sweet Dreams’ foi uma das músicas que gravamos uma versão especial antes de começar a filmar, então poderia ser usada em qualquer momento do filme. Mas foi a última opção. Experimentamos diversas maneiras de começar o filme e ficou sensacional”.
Sim, ficou sensacional. É a principal música do filme e da trilha sonora. Mas, como um dos principais personagens do filme, a trilha inteira funciona — dentro e fora. Antes da entrevista, recebi o CD, que tá tocando em looping, inclusive no momento em que eu escrevo isso. Acredite: até a Björkfunciona. BJÖRK! E tem Queen — QUEEN! — num mash-up de “I want it all” e “We will rock you”, com o rapper Armageddon. Tyler Bates também bota o resultado na conta de Zack Snyder e o jeito que ele trabalha. “Ele sempre te lembra o que você está fazendo lá. Somos músicos, amamos música, e tendemos esquecer que amamos a música enquanto fazemos a trilha de um filme. Parece estranho, mas é verdade, por conta do estresse. Do jeito que ele lida com as pessoas, te encoraja, é tudo muito bom. Você foca nos seus objetivos”, diz. “Ele é único. Humilde no jeito que trata e encoraja as pessoas, e a liderança. Tipo um quaterback, sabe? Ele é o Brett Favre dos diretores”.
Ok, Brett Favre se aposentou (dessa vez em definitivo, eu acho) e tem tantos erros quanto acertos, além de ter, talvez, esticado a carreira um pouco além da conta, mas a gente entendeu a referência. :D “Ele não tenta fingir que entende mais do que realmente entende, ele sabe que depende de pessoas. Não tenta intelectualizar demais. Se ele sente a música, então tá ótimo. Ele sabe quando ele sente… Quando você trabalha com ele, isso é muito positivo, pois nada vai chegar do nada, uma ideia. Alguns diretores tendem a impor o seu gosto”.
Tyler Bates (não encontramos nenhuma foto com menos de 20 anos do Marius DeVries)
Tyler conta que conseguiu seu emprego em “Madrugada dos Mortos” citando aqueles fãs que, se não gostam de algo, fazem de tudo pra destruir. “Nós conversamos e eu disse que isso é Madrugada dos Mortos, já há vários fãs que vão passar a nos odiar se não fizermos sucesso e tornar o filme um clássico. Isso tem de ser um clássico”. Com essa mentalidade, a gente nota que não foi à toa que o filme conseguiu, inclusive, superar o original. “Seus filmes são divertidos, sem pretensão alguma. Ele é um fã. Ele não é tipo ‘o que será que vão gostar?’, ele se pergunta ‘o que eu gosto?’. Ele é assim. Enquanto fazíamos 300, tinha também um jogo sendo feito ao mesmo tempo e o cara que desenvolvia disse que Zack Snyder foi o primeiro diretor de filme adaptado pra videogame que sentou e testou o jogo. Sentou lá e disse o que achava”.
Outra música da OST que também chama à atenção é “Love is the Drug” que, de uma das primeiras a serem escolhidas, passou para os créditos finais. “Zack queria tentar todas as direções possíveis, pra descobrir qual seria a correta, e isso foi ótimo, porque nós podíamos tentar essas performances, danças, coreografias e músicas e eu amo aquela sequência, ela só não cabia num filme de ação”, diz Marius DeVries.
Imagem da tal sequência da dança, tirada de um dos trailers de Sucker Punch
A tal da seqüência em que a música, interpretada por Oscar Isaac, o Blue, e Carla Gugino, pode ser ouvida é uma que envolvia todos os atores do elenco, num momento “musical”, cheio de dança e que até apareceu em um dos trailers, mas foi cortada da edição final e é apresentada, em “flashes”, nos créditos. “Vários desses experimentos foram descartados, seria impossível acomodá-los na história, mas ter a chance de tentar aquilo foi muito bom. Nós tentamos várias maneiras de editar, atrás de uma que funcionasse, mas não”. Quem quer ver Vanessa Hudgens cantando (“Pra ela era muito fácil, a gente teve de dificultar as coisas um pouco”, disse, rindo) dançando a dança do ventre,Jamie Chung sensualizando, terá de esperar o DVD / Blu-Ray. “Eu acho que o corte do filme pro DVD será significativamente diferente e podemos ter mais daquilo. Talvez eles lancem um Sucker Punch: O Musical, vamos esperar. Coisas malucas podem acontecer!”, brinca.
Zack Snyder, só pra constar, confirmou ao Judão que a cena — bem como diversas outras — estará na edição estendida do filme, no DVD / Blu-Ray. ;)
Ouvir a música no álbum é divertido e é uma das mais legais, mas é um fato: seria um tanto bizarro no meio de um filme em que meninas de saia curta destroem samurais gigantes, soldados alemães zumbis steam punis na Primeira Guerra, Dragão e robôs, ver todo esse pessoal, inclusive o vilão, cantando e dançando. Só que pros músicos, isso não importa. Por exemplo, Marius DeVries considera, apesar de tudo, um dos melhores momentos da produção acompanhar todo o processo de gravação da seqüência e da música. “Oscar Isaac é brilhante. Um ator fantástico e um intérprete talentoso, músico, escreve seu próprio material. Foi muito mais fácil tirar dele a performance necessária. Dá pra ter uma boa noção disso nos créditos. Carla foi o contrário, porém, ela é daquelas cujo o ato de ‘cantar’ é uma arte estranha e obscura, nunca tinha feito nada parecido, mas trabalhou com muita dedicação, compromentimento e coragem pra entregar o que, no final, a gente imaginava para aquela performance. Foi inspirador acompanhar esse processo”.
Tyler Bates, porém, resume como é que funciona na hora de fazer uma trilha sonora pra um filme de Zack Snyder: “Você sabe que é uma canção, de repente esquece. É assim que tem de funcionar, como nos subconscientes dos personagens”.
Ele só faltou dizer que quando você “esquece” que aquilo é uma canção, é porque ela já faz parte do filme. É, provavelmente, a melhor atuação de Sucker Punch. A experiência jamais seria completa sem essa trilha sonora.
Ainda bem que a temos — e que é tão sensacional. ;)

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